domingo, 9 de agosto de 2009

Os Insetos Interiores

Composição: Fernando Anitelli

Notas de um observador:


Existem milhões de insetos
Alguns rastejam, outros poucos correm
A maioria prefere não se mexer
Grandes e pequenos, redondos e triangulares
De qualquer forma são todos quadrados
Ovários oriundos de variadas raízes
Radicais, ramificações da célula rainha
Desprovidos de asas, não voam nem nadam
Possuem vida, mas não sabem
Duvidam do corpo
Queimam os seus filmes e suas floras
Para eles, tudo é capaz de ser impossível
Alimentam-se de nós
Nossa paz e ciência
Regurgitam assuntos e sintomas
Avoam e bebericam sobre as fezes
Descansam sobre a carniça
Repousam-se no lodo,
Lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são

A futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos.
Nocivos.
Poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário - lembrou um deles.
O ninho deve estar infectado! – lembrou outro.
Antes do sono: o beijo de boa noite.
Antes da insônia: a benção.
Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa: a família.
São soníferos...
Chagas sem curas.
Não reproduzem. São inférteis, infiéis, invertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas.
Cortam os troncos
Urinam nos rios
E na soma dos desagravos, greves e desapegos,
Esquecem-se de si.
Pontuam-se.
A cria que se crie!
A dona que se dane!

Os insetos interiores proliferam-se assim... na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estomago
A sensação de...o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformado parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada que romper
com as correntes de preguiça e mal dizer
Silenciam-se no holocausto da subserviência,
O organismo não se anima mais.

E assim, animais ou menos assim...
Descompromissados com o próprio rumo,
desprovidos de caráter e coragem
desatentos ao próprio tesouro...
Caem.

Desacordam todos os dias
Não mensuram suas perdas e imposturas!
Não almejam.
Não alma.

Já não mais amor.

Assim são:
Os insetos interiores

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